O exército de Israel declarou que está a preparar-se para deslocar à força os palestinianos da Cidade de Gaza para a parte sul do enclave como parte do seu plano mais amplo de reocupar a Gaza, uma medida que tem atraído críticas internacionais generalizadas.
O porta-voz do exército israelita, Avichay Adraee, afirmou numa declaração que, a partir de domingo, o exército retomaria a autorização da entrada de tendas e equipamento de abrigo para palestinianos deslocados por quase dois anos de guerra.
Alegou que os mantimentos seriam trazidos "sob a supervisão das Nações Unidas e agências internacionais de socorro" através da passagem de Kerem Shalom no sul de Gaza após "inspecções minuciosas".
Nem a ONU nem os grupos de ajuda emitiram comentários imediatos.
O anúncio foi feito um dia depois de os meios de comunicação israelitas, incluindo a emissora pública KAN, terem relatado que o exército se preparava para acelerar a sua ofensiva com o objetivo de ocupar a Cidade de Gaza.
Haaretz e Yedioth Ahronoth disseram que as forças do exército receberam ordens para se prepararem para uma incursão terrestre em grande escala, mas não antes de setembro.
"As alegações israelitas sobre fornecer tendas aos civis não passam de uma tentativa flagrante de encobrir o crime de deslocamento forçado em massa que tem cometido desde o início do genocídio em Gaza", afirma Ismail Thawbteh, o director do Gabinete de Comunicação Social do Governo em Gaza, à Anadolu.
'Política sistemática'
Thawbteh alertou que a área que o exército israelita pretende designar para estas tendas abrigarem os civis deslocados poderá tornar-se "uma nova armadilha sangrenta", semelhante ao que aconteceu na área de al-Mawasi, a oeste de Rafah e Khan Younis no sul de Gaza, onde mais de 1,5 milhões de pessoas foram concentradas nos últimos meses.
"O deslocamento forçado de civis sob ocupação constitui um crime de guerra e um crime contra a humanidade sob a Quarta Convenção de Genebra e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional."
Thawbteh disse que a transferência planeada de civis faz parte de uma "política sistemática para esvaziar Gaza dos seus residentes e substituir o direito de regresso voluntário e seguro por uma realidade imposta de tendas e áreas isoladas".
Na quarta-feira, o Chefe do Estado-Maior israelita, Eyal Zamir, aprovou aquilo a que chamou a "ideia central" do plano de reocupação de Israel, incluindo um assalto ao bairro de Zeitoun no sul da Cidade de Gaza, onde a 99ª Divisão do exército já foi destacada.
Na semana passada, o Gabinete de Segurança de Israel aprovou o plano do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu para reocupar totalmente Gaza, desencadeando indignação internacional e protestos domésticos que advertiram que equivalia a uma "sentença de morte" para os reféns israelitas detidos no enclave.
O plano prevê começar com a tomada da Cidade de Gaza deslocando quase 1 milhão de residentes para o sul, cercando a cidade e depois realizando incursões nos seus bairros.
Uma segunda fase envolveria retomar os campos de refugiados no centro de Gaza, grande parte dos quais já foi reduzida a escombros.