POLÍTICA
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Cimeira do Alasca: Ucrânia cautelosa enquanto Trump e Putin se reúnem sem Zelensky
O analista ucraniano Maksym Skrypchenko diz que a prioridade do Presidente dos EUA será os interesses americanos, levantando preocupações sobre acordos bilaterais com a Rússia que poderiam contornar a Ucrânia.
Cimeira do Alasca: Ucrânia cautelosa enquanto Trump e Putin se reúnem sem Zelensky
Bonecas de madeira russas representando Vladimir Putin e Donald Trump expostas em uma loja de souvenirs em Moscovo, Rússia, em 12 de agosto de 2025. / AP
15 de agosto de 2025

Uma nova e potencialmente decisiva fase de negociações para encerrar a guerra na Ucrânia começará na sexta-feira, quando o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontrará o com seu homólogo russo, Vladimir Putin, no Alasca – o primeiro encontro presencial entre os dois líderes desde o início do conflito há mais de três anos.

A reunião de alto nível na Base Conjunta Elmendorf-Richardson, em Anchorage, também será o primeiro diálogo direto entre presidentes em exercício dos EUA e da Rússia desde junho de 2021, quando o então presidente Joe Biden se encontrou com Putin em Genebra.

Para Trump e Putin, o último encontro bilateral ocorreu em Osaka, à margem da Cimeira do G20 em 2019.

Notavelmente ausente estará o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Embora Trump tenha afirmado que pode ligar para Zelensky para uma discussão de acompanhamento dependendo do resultado de sexta-feira, a reunião no Alasca será realizada sem a presença de terceiros – um formato que gerou preocupação em Kiev.

A reunião ocorre após três rondas recentes de negociações diretas renovadas entre Moscovo e Kiev em Istambul – em 16 de maio, 2 de junho e 23 de julho – que resultaram em grandes trocas de prisioneiros e memorandos preliminares delineando as posições de ambas as partes para um futuro acordo de paz.

‘Cinco princípios comuns’

Antes da cimeira, Zelensky envolveu-se numa intensa diplomacia com os EUA e aliados europeus. A sua aparição mais notável foi numa conferência de imprensa em Berlim ao lado do Chanceler alemão Friedrich Merz, após uma videoconferência com Trump e líderes europeus.

Zelensky afirmou que eles concordaram em cinco princípios compartilhados para encerrar a guerra, com um cessar-fogo imediato no topo das prioridades da Ucrânia. Kiev insiste que negociações substanciais com a Rússia só podem começar após a cessação das hostilidades.

Ele também destacou a necessidade de garantias de segurança confiáveis, observando que Trump expressou apoio a tais garantias durante a videoconferência e sinalizou a disposição de Washington em ajudar a fornecê-las.

Sobre disputas territoriais, Zelensky enfatizou que “a questão só pode ser discutida exclusivamente com a Ucrânia” – uma posição que ele afirmou ter o apoio de todos os parceiros – e rejeitou qualquer retirada das forças ucranianas de áreas sob controlo russo.

Zelensky também reiterou que Moscovo não deve ter veto sobre as aspirações da Ucrânia à NATO ou à União Europeia, que se intensificaram desde o início da guerra em fevereiro de 2022.

Defendendo um futuro formato trilateral envolvendo ele próprio, Trump e Putin, o líder ucraniano pediu que as sanções sejam reforçadas caso a Rússia se recuse a aceitar um cessar-fogo no Alasca. “Estes são princípios eficazes, e é importante que funcionem”, afirmou.

‘Expectativas permanecem baixas’ em Kiev

Apesar do trabalho diplomático, as expectativas na Ucrânia permanecem modestas.

“A Ucrânia espera que esta reunião seja um passo potencial em direção a uma solução de paz, embora as expectativas permaneçam baixas”, disse Maksym Skrypchenko, presidente do think tank Centro de Diálogo Transatlântico, com sede em Kiev.

Ele argumentou que a estratégia de Putin é prolongar a guerra por meio de “conversas intermináveis e improdutivas” destinadas a atrasar a pressão sobre a Rússia, alertando Trump para ter cautela com tais táticas.

Sobre se Trump poderia proteger os interesses da Ucrânia, Skrypchenko observou que a principal prioridade do Presidente dos EUA são os próprios interesses americanos, o que poderá levar a acordos bilaterais com a Rússia em questões diplomáticas, económicas ou até nucleares.

“A Ucrânia não faz parte formalmente dessa via – o que é uma grande preocupação para Kiev – mas permanece intimamente conectada às dinâmicas EUA-Rússia. Pelas declarações recentes, Trump parece querer atuar como mediador para trazer a paz, enquanto também entende que a Ucrânia não pode ser abandonada”, disse.

Skrypchenko acrescentou que Trump tem interesse numa Europa pacífica que ativamente negocie com os EUA – “algo impossível de alcançar” enquanto a guerra Rússia-Ucrânia continuar.

‘Papel europeu agora mais importante do que nunca’

Sobre o papel da Europa, Skrypchenko destacou que os estados-membros da UE continuam a ser a principal fonte de apoio financeiro e militar à Ucrânia – um papel que ele espera que continue.

“O papel europeu é agora mais importante do que nunca. Embora Putin supostamente despreze e ignore a Europa, a realidade é que a Europa deve estar à mesa – a guerra está à sua porta, e eles estão a pagar por isso”, afirmou.

A posição da Europa sobre a cimeira tem sido marcada por diferenças sutis, mas um senso compartilhado de inquietação – o medo de ser deixada de fora das negociações de paz que podem remodelar a segurança do continente.

Todos os países, exceto a Hungria, apoiaram uma declaração conjunta da UE na terça-feira, saudando o esforço de Washington para acabar com a guerra, mas insistindo que qualquer acordo deve salvaguardar a soberania da Ucrânia e a segurança da Europa.

A Coligação dos Dispostos – co-presidida por Alemanha, França e Reino Unido – também reiterou apoio aos esforços dos EUA, alertando que “fronteiras internacionais não devem ser alteradas pela força”.

Skrypchenko afirmou que a eventual adesão da Ucrânia à UE torna as conversas no Alasca uma preocupação direta para os líderes europeus, que devem planear a recuperação económica pós-guerra, necessidades humanitárias e desafios relacionados a refugiados.

“A UE fornece o financiamento; os EUA entregam capacidades militares – ambos permanecem essenciais para a defesa da Ucrânia e para a segurança da Europa”, concluiu.

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