AMÉRICA LATINA
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Venezuela mobiliza voluntários da milícia em resposta a "ameaça" dos EUA
Maduro denunciou como "ilegal" uma tentativa dos EUA de mudança de regime depois de Washington ter enviado forças para as Caraíbas e duplicado a sua recompensa de 50 milhões de dólares sobre ele.
Venezuela mobiliza voluntários da milícia em resposta a "ameaça" dos EUA
Guarda presidencial exibe armas para recrutas que se juntam às milícias civis durante a campanha de alistamento de Maduro em Caracas. / AP
24 de agosto de 2025

Funcionários públicos, donas de casa e reformados alinharam-se na capital venezuelana Caracas no sábado, quando milhares se voluntariaram-se para se juntar à milícia do país se houver uma invasão dos EUA.

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, apelou aos cidadãos para responderem à atual "ameaça" dos EUA e inscreverem-se durante o fim-de-semana na Milícia Bolivariana, um corpo civil ligado às forças armadas do país sul-americano.

A demonstração de força também pretende enviar uma mensagem a Washington, que emitiu uma recompensa de 50 milhões de dólares por Maduro -- que é acusado pela administração Trump de liderar um cartel de droga -- e estacionou três navios de guerra ao largo da costa da Venezuela, para o que os EUA chama operações anti-droga.

Centros de registo da milícia foram estabelecidos nas praças da capital, edifícios militares e públicos e até no palácio presidencial Miraflores.

Os voluntários também se podiam inscrever no Quartel da Montanha, que alberga o mausoléu do falecido líder socialista Hugo Chávez, numa área densamente povoada com grandes projetos habitacionais e casas de tijolo em ruínas.

"Já serviu anteriormente?", perguntou um membro da milícia vestido de camuflagem a Oscar Matheus.

"Estou aqui para servir o nosso país", disse à AFP o auditor de 66 anos. "Não sabemos o que pode acontecer, mas devemos preparar-nos e continuar a resistir.

"A pátria está a chamar-nos. O nosso país precisa de nós", disse Rosy Paravabith, de 51 anos.

"Viva a pátria!"

Apelidadas de Exército Bolivariano por Chávez, as Forças Armadas venezuelanas não escondem a inclinação política da milícia.

"Chávez vive!" é agora a sua saudação oficial.

O antigo presidente socialista venezuelano Chávez chegou ao poder em 1999 e morreu no cargo em 2013. Maduro tem estado no poder desde então, embora os EUA não reconheçam a validade das suas duas últimas eleições.

Não está claro quantas tropas estão na milícia venezuelana.

Maduro disse esta semana que só a milícia tem mais de 4,5 milhões de soldados prontos.

No entanto, a estimativa independente mais recente contabilizou cerca de 343.000 membros em 2020, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

"Inscrevo-me pela Venezuela, viva a pátria!", gritaram os voluntários após o registo.

Agentes da polícia e reservistas militares também se alinharam para reafirmar os seus compromissos.

Após o registo, os voluntários assistiram a um documentário sobre o bloqueio europeu na costa da Venezuela entre 1902 e 1903, depois do então presidente Cipriano Castro ter recusado pagar uma dívida externa.

O filme de 2017 mostrava agricultores armados, alguns disparando armas enquanto outros analisavam mapas, com navios de guerra no horizonte.

De seguida, os voluntários foram levados através de uma sala com armas em exposição: uma metralhadora de fabrico americano, um lança-granadas sueco, um lançador RPG soviético e uma metralhadora belga.

Um tenente do exército explicou como usar cada arma.

"Isto pode ser disparado para o céu?", perguntou um participante.

"É melhor disparar direito", respondeu o soldado.

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"Imoral, criminoso, ilegal"

Os Estados Unidos enviaram forças armadas para as Caraíbas no passado.

Mas desta vez, o destacamento coincide com a administração do Presidente americano Donald Trump a aumentar a pressão sobre Maduro ao duplicar a sua recompensa sobre ele para 50 milhões de dólares no início deste mês.

Os EUA alegam que Maduro está a liderar o Cartel dos Sóis, um grupo de tráfico de droga que foi designado uma organização terrorista.

Na sexta-feira, Maduro descreveu as medidas americanas como uma tentativa "ilegal" de mudança de regime.

"O que eles estão a ameaçar fazer contra a Venezuela -- mudança de regime, um ataque terrorista militar -- é imoral, criminoso e ilegal", disse Maduro.

Nas ruas da Venezuela, o tópico provocou piadas e preocupações, embora especialistas dizem que é improvável que os EUA tomem ação direta.

A oposição de Maduro apelou às pessoas para não se alistarem -- embora muitas o fizessem de qualquer forma.

"Quero defender a pátria", disse Jesus Borquez, de 19 anos.

"Sei que por causa da minha idade não vou carregar uma espingarda", disse Omaira Hernández, de 78 anos.

"Mas estou disposta a ajudá-los."

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