Durante a sua visita a Ancara em 12 de março, o Primeiro-Ministro polaco Donald Tusk pediu ao Presidente Recep Tayyip Erdogan que liderasse esforços para a estabilidade regional.
Erdogan enfatizou a importância estratégica da Türkiye para a União Europeia durante as conversas bilaterais, enquanto a Europa enfrenta um desafio de segurança após a insistência do Presidente dos EUA, Donald Trump, para que o continente reforce a sua própria defesa.
"Se a União Europeia quer prevenir ou até mesmo reverter a sua perda de poder e influência, só pode alcançar isso com a plena adesão da Türkiye", disse Erdogan numa conferência de imprensa conjunta após as conversas bilaterais com Tusk no Complexo Presidencial.
Erdogan reiterou o compromisso da Türkiye com a adesão à UE, apesar do processo de negociação paralisado. A Türkiye é candidata desde 1987; as negociações de adesão começaram em 2005, mas estão paralisadas desde 2016.
Especialistas em relações internacionais enfatizam que o papel estratégico da Türkiye na segurança europeia vai além da sua candidatura paralisada à UE.
"Um ponto crucial a considerar é que se espera que a Türkiye melhore a segurança da Europa mesmo sem ser membro pleno da UE", diz a Dra. Ozden Zeynep Oktav, chefe do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Medeniyet de Istambul, à TRT World.
“Embora se espere que a Türkiye contribua para a segurança da Europa, a UE ainda não retribuiu o empenhamento da Türkiye. Muitos capítulos das negociações de adesão continuam por abrir. O facto de a UE impor à Türkiye expectativas relacionadas com a segurança sem fazer avançar as negociações não é justo nem sustentável”, afirma.
A professora sublinhou ainda a evolução da influência geopolítica da Türkiye.
“A Türkiye com que a Europa está a dialogar hoje não é a Türkiye do passado. Demonstrámos a nossa importância estratégica na Síria, reforçámos os laços em todo o mundo turco e emergimos como um ator-chave na equação energética mundial. Mas será que a UE compreende plenamente esta transformação? Continuo cética”, afirma.
Oktav argumenta ainda que as divisões internas da UE podem complicar a sua abordagem em relação à Türkiye.
“Mesmo perante uma grave crise de segurança - em que a UE se apercebe de ameaças simultâneas da Rússia e dos Estados Unidos - não creio que isso acelere a adesão da Türkiye. É provável que a UE continue a posicionar a Türkiye num limbo estratégico: nem totalmente dentro nem totalmente fora da sua esfera, atribuindo-lhe ainda responsabilidades vitais em matéria de segurança”, afirmou.
A visita de Tusk a Ancara seguiu-se à reunião de terça-feira entre responsáveis ucranianos e norte-americanos na Arábia Saudita, onde os dois países chegaram a acordo sobre uma proposta de cessar-fogo imediato de 30 dias, desde que a Rússia também aceite.
Erdogan congratulou-se com a disponibilidade da Ucrânia para aceitar um cessar-fogo e instou a Rússia a responder de forma construtiva. Reiterou a disponibilidade da Türkiye para mediar as conversações de paz, declarando: “Se os últimos acontecimentos levarem a Rússia e a Ucrânia à mesa das negociações, estamos preparados para facilitar as conversações.”
Erdogan acrescentou: “Temos de pôr um fim justo à guerra. Estamos prontos a proporcionar um local para as conversações de paz e toda a assistência possível”.
Tusk mostrou-se optimista quanto ao potencial papel da Türkiye na promoção da estabilidade regional.
“Fiz uma proposta clara ao Presidente Erdogan para que a Türkiye assuma a maior responsabilidade possível no processo de paz, garantindo a estabilidade e a segurança em toda a nossa região”, afirmou, acrescentando que Erdogan deverá visitar Varsóvia no próximo mês.
Fazendo eco das preocupações sobre a abordagem da UE em relação à Türkiye, Suay Nilhan Acikalin, professora associada e investigadora convidada do Mathias Corvinus Collegium, na Hungria, salientou a mudança de papel da Polónia no panorama de segurança da Europa e o seu crescente alinhamento com a Türkiye.
“Nos últimos cinco a seis anos, a Polónia tem procurado ativamente reduzir a sua dependência dos Estados Unidos, especialmente em matéria de defesa e segurança. A Polónia foi o primeiro país da NATO a assinar um acordo alargado e abrangente com a Türkiye no domínio da indústria da defesa”, afirmou Acikalin à TRT World.
As políticas polacas no seio da UE evoluíram significativamente, sobretudo em resposta à guerra russo-ucraniana.
“A Polónia argumentou que a ajuda militar sem restrições da UE à Ucrânia poderia, por si só, criar um dilema de segurança a longo prazo. Para compreender a recente trajetória política da Polónia, é necessário vê-la num quadro mais vasto de cinco anos. Ao mesmo tempo, temos de reconhecer a crescente dinâmica positiva na abordagem da Polónia em relação à Türkiye”, afirmou.
Olhando para o futuro, Acikalin previu que as políticas da Polónia na UE continuem a divergir das dos seus homólogos da Europa Ocidental.
“O apoio inequívoco da Polónia à adesão da Türkiye à UE é significativo. A crescente dinâmica por detrás da defesa da adesão da Türkiye por parte da Polónia evidencia um alinhamento crescente entre as duas nações em matéria de estratégia e segurança na Europa”, afirmou.
Tusk reforçou o apoio da Polónia à candidatura da Türkiye à UE, afirmando: “Esperamos sinceramente que o processo de adesão da Türkiye à UE se torne agora um objetivo realista e tangível. Sempre apoiámos a Türkiye a este respeito e continuaremos a fazê-lo”.
Os dois dirigentes debateram também o reforço do comércio bilateral e da cooperação em matéria de defesa. Tusk afirmou que o objetivo é aumentar o volume de comércio para 15 mil milhões de dólares, tendo já ultrapassado os 12 mil milhões de dólares.
A Polónia e a Türkiye estão a explorar projectos conjuntos de infra-estruturas, incluindo uma rede ferroviária de alta velocidade.
Tusk salientou a importância da cooperação entre a NATO e a Europa para garantir a estabilidade ao longo da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, em especial após um eventual cessar-fogo.
“O papel da Türkiye a este respeito poderá ser crucial”, afirmou Tusk.