Tenho continuado a filmar o meu novo programa de televisão, “Where to Next”, na TRT World. Já filmámos metade da temporada e tem sido um privilégio aprofundar o conhecimento de zonas da Türkiye fora de Istambul e da Capadócia.
Por isso, se achava que conhecia a Türkiye, pense novamente. Esqueça as praias de Bodrum ou a loucura de Istambul. Deixe-me levá-lo para fora dos circuitos habituais até Kars, e ainda por cima no inverno. Já aqui tinha estado uma vez, numa viagem louca da Tailândia para a Irlanda, sem aviões. Mas, nessa altura, passei apressadamente pelo leste da Türkiye.
Desta vez, voltei para o fazer como deve ser. Como é que este lugar se apresenta no inverno? Um país das maravilhas coberto de neve, escondido no extremo nordeste, onde a cultura é rica, a comida é ridícula e as paisagens fazem-nos sentir como se tivéssemos entrado num conto de fadas de inverno.
Como chegar a Kars
Em primeiro lugar, chegar aqui é metade da diversão. Pode apanhar um avião doméstico a partir de Istambul ou, para os verdadeiros aventureiros, pode apanhar o famoso comboio Expresso Oriental, um comboio com vagões-cama que atravessa a Anatólia nevada durante 24 horas. Desta vez, apanhei o avião; prazos são prazos, amigos!
Itinerário de Kars
O blogue irá cobrir tanto o meu itinerário de Kars, que experimentei pessoalmente, como também um itinerário sugerido para vocês. Tenho uma equipa inteira preparada para filmar, por isso, mais do que nunca, podem confiar no itinerário! Vamos lá rever os meus passos:
Dia 1: Gelo, cavalos e gansos: Lago Cildir
Kars é diferente no inverno. A nossa aventura começou na extensão gelada do lago Cildir, onde o gelo era suficientemente espesso para ser atravessado por um carro (não que eu o recomende - opte pelos trenós puxados por cavalos, muito mais fáceis de fotografar).
Os habitantes locais organizam estes belíssimos passeios de trenó - sinos a tilintar, tapetes vibrantes - é verdadeiramente mágico. Pensa nas vibrações da Lapónia, mas com chá turco em vez de cacau quente a preços excessivos.
Jantar de ganso no Kars Kaz Evi
Naquela noite, depois de uma viagem gelada até à cidade de Kars, chegou a altura de comer o prato principal da região: o ganso. O famoso restaurante Kars Kaz Evi serviu-nos um ganso de pele dourada, cozinhado lentamente, com arroz de bulgur embebido em gordura rica. O paraíso. Como sabem, não sou um homem de aves, por isso limitei-me a observar o banquete à distância.
Isso foi até a animação local chegar e me obrigar a dançar (mal), e depois forçar-me a deitar e atirarem facas muito perto das minhas zonas mais sensíveis (digamos que fiquei feliz por já ter tido o meu primeiro filho!).
Dia 2: Queijo, queijo e mais queijo
Aldeia de Bogatepe: Nirvana do queijo
Sinceramente, acho que as pessoas não sabem que a Türkiye é tão famosa pelo queijo. É de classe mundial. E Kars é um dos pontos altos do país. Por isso, na manhã seguinte, dirigimo-nos à aldeia de Bogatepe, a capital do queijo da Türkiye. No alto das montanhas nevadas, os habitantes locais têm vindo a fabricar o Kars Gravyeri (pense no Gruyere turco) há várias gerações.
Conhecemos alguns dos artesãos e assistimos à magia do fabrico do queijo - leite cru, prensas de madeira, coalho tradicional. Se tiver sorte, pode até experimentar o “peyniri civil”, o queijo seco e fibroso que é quase como os palitos de mozzarella turcos.
Museu do Queijo de Kars
Depois voltámos à cidade para visitar o Museu do Queijo de Kars - que, por acaso, é o maior museu de queijo do mundo. Instalado numa fortificação otomana com 250 anos de idade, é de alguma forma fixe e tem queijo ao mesmo tempo.
Jantar no restaurante sírio
Terminámos o segundo dia num restaurante sírio acolhedor, escondido numa rua com neve. Espetadas de borrego, sopa de lentilhas, chá sem fim. Kars está cheia de surpresas.
Dia 3: Fantasmas russos e fontes termais naturais
Passeio pela cidade: Arquitetura russa
Kars não se parece com nenhum outro lugar da Türkiye. Tendo passado por 40 anos de domínio russo no século XIX, a cidade parece mais uma cidade báltica com neve. As ruas são em grelha, as mansões em pedra, as avenidas largas - tudo feito de rocha vulcânica escura.
Deambulando pelas ruas, verá igrejas ortodoxas, escolas abandonadas e fontes cobertas de musgo. É como entrar num livro de história da vida real.
Hotel Cheltikov
Também filmámos no interior do Hotel Cheltikov, uma mansão russa restaurada que é agora um hotel boutique – e sim, podem lá ficar!
Palácio de Ishak Pasha
Mais tarde, fizemos uma viagem de carro até ao Palácio de Ishak Pasha, perto de Dogubayazıt. É uma viagem de cerca de 2 horas, mas vale 100% a pena. O palácio é como uma fortaleza de Game of Thrones largada numa montanha solitária e enevoada.
No caminho de volta, fomos a algumas fontes termais naturais no meio da natureza. Nada melhor do que mergulhar em água quente enquanto a neve cai à nossa volta.
Dia 4: Cidade fantasma de Ani
Explorar as ruínas de Ani
Por último, mas não menos importante, passámos o quarto dia a filmar nas Ruínas de Ani, a chamada “Cidade das 1001 Igrejas”. É uma cidade medieval abandonada, mesmo na fronteira com a Arménia.
Imaginem catedrais em ruínas, velhas muralhas da cidade, mesquitas antigas - tudo empoleirado em penhascos sobre um rio serpenteante. Não há literalmente nada à volta. Não há lojas de recordações, não há multidões, apenas você e o vento a uivar por entre as pedras antigas.
Dica: Leve boas botas. Algumas zonas ficam muito lamacentas no inverno.
Considerações finais sobre Kars
Se quer uma verdadeira aventura turca, Kars é irreal. É crua, autêntica e totalmente fora do radar do turismo de massas. Além disso, onde mais se pode andar a cavalo num lago gelado, comer queijo numa aldeia com neve e passear por uma cidade abandonada - tudo em quatro dias?
Perguntas frequentes sobre a visita a Kars
É seguro visitar Kars?
Sim! É muito seguro, super acolhedor e os habitantes locais ficam entusiasmados por ver estrangeiros a explorar.
Qual é a melhor altura para visitar Kars?
Inverno (dezembro-março) para a magia da neve, ou início do outono (setembro-outubro) para o tempo fresco e menos lama. Atenção, o inverno é um gelo!
Preciso de um guia turístico para visitar as Ruínas de Ani?
Não propriamente, mas ter um guia torna a visita muito mais rica - há tanta história por camadas que é fácil não perceber se estiver a passear sozinho.
É possível visitar Kars sem falar turco?
Claro que é possível! O inglês não está muito difundido, mas as pessoas são pacientes e simpáticas. Para além disso, o Google Translate salva o dia.
Aqui está - isto é Kars. Selvagem. Fria. Deliciosa. Cheia de histórias. Se está a planear a sua própria viagem, agasalhe-se e prepare-se para uma aventura que nunca esquecerá.