O Diretor da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, manifestou esta segunda-feira, grande preocupação com a dimensão do enriquecimento de urânio no Irão, alertando para o facto de as actuais reservas do país estarem a aproximar-se perigosamente do limiar necessário para uma arma nuclear.
Numa conferência de imprensa após a abertura da reunião do Conselho de Governadores da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), em Viena, o Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou que o nível de enriquecimento realizado por Teerão “não pode ser ignorado”.
“O enriquecimento de urânio, por si só, não é uma actividade proibida, algo que os meus homólogos iranianos me dizem sempre”, disse Grossi. “Mas quando se acumula e se continua a acumular... muito, muito perto do que é necessário para um engenho explosivo nuclear, então não o podemos ignorar”.
“Não existe qualquer utilização médica ou civil para este material. É por isso que é importante para nós”, acrescentou.
Embora o enriquecimento seja permitido ao abrigo do direito internacional e dos compromissos assumidos pelo Irão no âmbito do Tratado de Não Proliferação (TNP), Grossi deixou claro que o grau e o ritmo do programa de enriquecimento do Irão levantam sinais de alerta do ponto de vista das salvaguardas.
As suas observações surgiram no meio de uma nova tensão diplomática sobre o dossier nuclear do Irão. O Irão e os EUA realizaram cinco rondas de conversações indirectas desde abril, com a mediação de Omã, numa tentativa de encontrar um caminho de regresso a um acordo nuclear após a retirada dos EUA em 2018 do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) de 2015.
Mas continua a existir um grande obstáculo: a recusa do Irão em suspender o enriquecimento de urânio, que insiste ser um direito soberano ao abrigo do TNP. O Irão, por sua vez, afirmou que está prevista uma nova ronda de negociações nucleares com os EUA para domingo.
Em resposta a perguntas sobre uma possível remessa do caso nuclear do Irão para o Conselho de Segurança da ONU e a reactivação do mecanismo de sanções “snapback”, Grossi disse: “Bem, penso que tudo está interligado”.
Grossi referiu que, embora a AIEA continue a ser um organismo técnico, apoia os esforços diplomáticos entre Teerão e Washington e prossegue o seu trabalho de verificação de forma independente.
Grossi também comentou a alegação do Irão de que tinha obtido documentos relacionados com o programa nuclear de Israel.
“Isto parece referir-se a Soreq, que é uma instalação de investigação que nós inspeccionamos, já agora”, disse ele, observando que a agência não recebeu qualquer comunicação oficial sobre o assunto.
Afirmou que, a AIEA controla as instalações de Soreq ao abrigo de um acordo de salvaguardas limitadas com Israel, mas não tem acesso a outras partes da infraestrutura nuclear israelita, incluindo as instalações de Dimona.
Em resposta às recentes ameaças israelitas de um ataque militar contra as instalações nucleares iranianas, Grossi sublinhou o papel da agência na promoção de soluções pacíficas.
“Estamos a tentar resolver esta questão sem recorrer à violência ou à força”, afirmou.
O Irão respondeu avisando que retaliaria energicamente contra qualquer ataque desse tipo, tendo os responsáveis prometido “uma resposta devastadora” a qualquer ação militar israelita.
Embora Grossi tenha reiterado que a AIEA não acusa o Irão de desenvolver armas nucleares, sublinhou que os actuais níveis de enriquecimento exigem atenção e verificação internacional.
“Devido ao facto de não termos recebido as respostas de que necessitamos, não podemos garantir que tudo se destina a fins pacíficos”, afirmou.