O primeiro grupo de investigadores, em fuga aos cortes nas despesas impostos pelo Presidente Donald Trump, começará a trabalhar numa universidade francesa em junho.
A Universidade Aix Marseille disse na quinta-feira que o seu programa "Lugar Seguro para a Ciência" recebeu uma enxurrada de candidaturas, depois de ter anunciado em março que abriria as suas portas a cientistas norte-americanos ameaçados pelos cortes.
Das 298 candidaturas, 242 foram consideradas elegíveis e “estão a ser estudadas” para cerca de 20 lugares disponíveis, informou a universidade num comunicado.
Acrescentou que 135 dos candidatos eram cidadãos americanos e 45 tinham dupla nacionalidade.
O reitor da universidade, Eric Berton, afirmou que gostaria de ver criado um novo estatuto de “cientista refugiado” e que mais investigadores norte-americanos fossem acolhidos em França e na Europa.
Um projecto de lei que estabelece este estatuto foi apresentado no Parlamento francês na segunda-feira pelo antigo presidente François Hollande, actualmente deputado.
A Universidade Aix Marseille já recebeu 25 cientistas da Ucrânia, do Iémen, do Afeganistão e da Palestina, ao abrigo de um outro programa para investigadores ameaçados.
A universidade reservou um orçamento para que cada investigador admitido receba entre 600.000 e 800.000 euros (680.000 a 910.000 dólares) ao longo de três anos para continuar o seu trabalho.
Segundo a universidade, os candidatos provêm de várias instituições norte-americanas, incluindo Johns Hopkins, NASA, Yale, Stanford, Columbia e a Universidade da Pensilvânia.
Cortar milhares de milhões
Um painel de seleção reunir-se-á na próxima quarta-feira, seguido de entrevistas à distância antes da chegada dos primeiros cientistas no início de junho.
De acordo com relatos dos meios de comunicação social, alguns investigadores e cientistas dos EUA estão alegadamente a mudar-se para a Europa, citando grandes interrupções no panorama da investigação americana, em grande parte devido a mudanças de política sob a administração Trump.
O governo cortou os orçamentos federais para a investigação, cortando milhares de milhões de agências vitais como os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), a NASA e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.
Por exemplo, os NIH cancelaram numerosas subvenções que já não estavam de acordo com as prioridades em evolução da agência, enquanto os cortes no financiamento da USAID deixaram importantes projectos de investigação sem apoio.
Um inquérito realizado pela Nature revelou que muitos cientistas norte-americanos estão a considerar abandonar o país, sendo os investigadores pós-graduados (79%) e os estudantes de doutoramento (75%) particularmente afectados pela incerteza do financiamento.