A Rússia disse que estava à espera de “explicações” da França depois de um funcionário do governo russo ter sido detido durante horas num aeroporto de Paris, naquilo a que chamou de um “espetáculo vergonhoso”.
O funcionário, cujo nome a Rússia não revelou, trabalhava para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e tinha chegado a França no domingo como parte de uma delegação oficial, afirmou o Moscovo.
A polícia fronteiriça francesa confiscou-lhe o telemóvel e o computador no momento da aterragem e manteve-o à espera no controlo fronteiriço durante horas, apesar de lhe ter sido emitido um visto francês.
Os laços entre a França e a Rússia atingiram novos patamares nos últimos meses, à medida que Moscovo direciona as suas críticas à Europa e ao Presidente francês Emmanuel Macron, em particular, devido ao seu apoio à Ucrânia.
“O que aconteceu a 6 de abril no aeroporto Charles de Gaulle não tem explicação”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, durante uma conferência de imprensa semanal.
"A embaixada russa enviou imediatamente um funcionário consular para o aeroporto. O nosso diplomata teve de esperar quase sete horas para ter acesso ao seu colega, que tinha chegado a França como parte de uma delegação oficial", acrescentou.
“Não tencionamos deixar isto sem consequências”, voltou a afirmar.
Não houve resposta imediata de Paris.
"Exigimos explicações por parte da França. Para ser franca, é difícil imaginar como é que eles vão justificar", disse Zakharova no briefing.
'Totalmente inaceitável'
O Kremlin considerou a detenção "totalmente inaceitável" e disse que iria "agravar ainda mais" as relações entre Moscovo e Paris.
A Rússia afirmou ter enviado uma nota de protesto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros francês e convocou o embaixador francês em Moscovo.
Tanto a Rússia como a França expulsaram dezenas de diplomatas dos seus países desde o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, há mais de três anos.
Recentemente, o Kremlin redirecionou grande parte da sua raiva em relação ao conflito na Ucrânia para a Europa e distanciou as suas criticas dos Estados Unidos, que procuram estabelecer laços mais estreitos com Moscovo.
A França tem apoiado firmemente a Ucrânia e lançou a ideia de enviar forças de manutenção da paz para o país como parte de um futuro acordo de paz, uma proposta que a Rússia diz ser equivalente a um ato de guerra.
Na segunda-feira, Macron acusou a Rússia de implementar “táticas de atraso”, depois de ter rejeitado uma proposta conjunta dos EUA e da Ucrânia para um cessar-fogo e de ter estabelecido condições para uma trégua no Mar Negro.
Moscovo detém atualmente na prisão o investigador francês Laurent Vinatier, que trabalha para uma ONG suíça de mediação de conflitos, sob acusações que Paris considera “arbitrárias”.